"Subi ao meu quarto pelas escadarias poeirentas de Bunker Hill, passando pelos prédios de vigamento de madeira cobertos de fuligem ao longo daquela rua escura; areia, óleo e graxa sufocando as inúteis palmeiras enfileiradas como prisioneiras agonizantes, acorrentadas a um pequeno retalho de chão com pavimento negro escondendo seus pés. Poeira, edifícios velhos e pessoas velhas sentadas à janela, pessoas velhas cambaleando para fora de casa, pessoas velhas locomovendo-se penosamente ao longo da rua escura.(...) Os desenraizados, os tristes e vazios, os velhos e os jovens, o pessoal da terrinha. Estes eram meus conterrâneos, estes eram os novos californianos. Com suas camisas pólo em cores vivas e seus óculos escuros, estavam no paraíso, pertenciam a ele."
"Pergunte ao Pó", como muitos outros livros da geração beat, é explicitamente autobiográfico. Escrito em primeira pessoa, a história é contada por Arturo Bandini, um jovem aspirante a escritor que sai de casa e vai morar na Los Angeles de 1939, em um pequeno quarto de aluguel barato, com uma cama, uma janela que serve de entrada alternativa, um armário e uma máquina de escrever.
"Os dias magros, céus azuis sem nunca uma nuvem, um mar azul dia após dia, o sol flutuando através dele. Os dias de fartura - fartura de preocupações, fartura de laranjas. Comidas na cama, comidas ao almoço, engolidas como jantar. Laranjas, cinco centavos a dúzia. Luz do sol no céu, suco do sol no meu estômago. No mercado japonês, ele me via chegando, aquele japonês sorridente com rosto de lua, e pegava um saco de papel. Um homem generoso, me dava às vezes quinze, às vezes vinte por um níquel."
Bandini mora sozinho, e "em um bar onde os velhos se reuniam, onde a cerveja era barata e choca, onde o passado permanecia inalterado" ele conhece Camilla, uma garçonete mexicana. Jovem e confuso, ele se apaixona por ela mas ao mesmo tempo a odeia, com misturas de sentimentos fortes.
O livro é escrito de forma espontânea, e as frases fluem, se encaixam umas nas outras e seguem todas juntas, marchando através das páginas sem perder o ritmo. Um livro escrito sem filtros, quase impulsivo, os sentimentos do autor direto para as páginas. A melancolia e preguiça do clima quente de Los Angeles são retratadas de forma genial, é possível sentir o ar seco e abafado, a areia e o pó sem ajuda do vento para ir adiante.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
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2 comentários:
Grande Fante (Quando tu voltar tu vai me emprestar). " pequeno quarto de aluguel barato, com uma cama, uma janela que serve de entrada alternativa, um armário e uma máquina de escrever." Bem Arturo Bandini mesmo. Tenho o Sonhos de Bunker Hill
recomendação aceita..
abraço warken
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