quarta-feira, 9 de abril de 2008

John Fante, Pergunte ao Pó (Ask the Dust)

"Subi ao meu quarto pelas escadarias poeirentas de Bunker Hill, passando pelos prédios de vigamento de madeira cobertos de fuligem ao longo daquela rua escura; areia, óleo e graxa sufocando as inúteis palmeiras enfileiradas como prisioneiras agonizantes, acorrentadas a um pequeno retalho de chão com pavimento negro escondendo seus pés. Poeira, edifícios velhos e pessoas velhas sentadas à janela, pessoas velhas cambaleando para fora de casa, pessoas velhas locomovendo-se penosamente ao longo da rua escura.(...) Os desenraizados, os tristes e vazios, os velhos e os jovens, o pessoal da terrinha. Estes eram meus conterrâneos, estes eram os novos californianos. Com suas camisas pólo em cores vivas e seus óculos escuros, estavam no paraíso, pertenciam a ele."

"Pergunte ao Pó", como muitos outros livros da geração beat, é explicitamente autobiográfico. Escrito em primeira pessoa, a história é contada por Arturo Bandini, um jovem aspirante a escritor que sai de casa e vai morar na Los Angeles de 1939, em um pequeno quarto de aluguel barato, com uma cama, uma janela que serve de entrada alternativa, um armário e uma máquina de escrever.

"Os dias magros, céus azuis sem nunca uma nuvem, um mar azul dia após dia, o sol flutuando através dele. Os dias de fartura - fartura de preocupações, fartura de laranjas. Comidas na cama, comidas ao almoço, engolidas como jantar. Laranjas, cinco centavos a dúzia. Luz do sol no céu, suco do sol no meu estômago. No mercado japonês, ele me via chegando, aquele japonês sorridente com rosto de lua, e pegava um saco de papel. Um homem generoso, me dava às vezes quinze, às vezes vinte por um níquel."

Bandini mora sozinho, e "em um bar onde os velhos se reuniam, onde a cerveja era barata e choca, onde o passado permanecia inalterado" ele conhece Camilla, uma garçonete mexicana. Jovem e confuso, ele se apaixona por ela mas ao mesmo tempo a odeia, com misturas de sentimentos fortes.

O livro é escrito de forma espontânea, e as frases fluem, se encaixam umas nas outras e seguem todas juntas, marchando através das páginas sem perder o ritmo. Um livro escrito sem filtros, quase impulsivo, os sentimentos do autor direto para as páginas. A melancolia e preguiça do clima quente de Los Angeles são retratadas de forma genial, é possível sentir o ar seco e abafado, a areia e o pó sem ajuda do vento para ir adiante.

2 comentários:

Eduardo disse...

Grande Fante (Quando tu voltar tu vai me emprestar). " pequeno quarto de aluguel barato, com uma cama, uma janela que serve de entrada alternativa, um armário e uma máquina de escrever." Bem Arturo Bandini mesmo. Tenho o Sonhos de Bunker Hill

Vitor De Conto disse...

recomendação aceita..
abraço warken