domingo, 20 de abril de 2008

A escola

A escola é incrivelmente igual. Não interessa a data ou a hora. Nem mesmo a pessoa. Sempre falando das mesmas mesquinhezas no mesmo horário com as mesmas pessoas. Talvez meus dias mais excitantes no colégio foram de primeira a quarta série, que quando começava um temporal era uma festa. Mas de 1º a 3º ano, não. Você tem vontade, no começo, depois vai pela amizade e às vezes nem isso.

De primeiro a terceiro ano minha vontade era nula. Eu tinha um colega, muito parecido comigo, a conversa típica era:
-Sabe qual é a minha vontade de fazer isso?
Não sei por que agente ainda respondia, mas sempre respondia, talvez pelo gosto da resposta, ou, por fazer o outro “feliz”;
-Qual?
Sempre variava “nula”, “zero” e quando a criatividade era alta “minha vontade é igual a chance da irmã Regina entrar e eu defenestra-lá ” mas era quase sempre;
-Nenhuma.

Meus colegas eram iguais a mim. Sem vontade. Ainda acho que eles tinham mais vontade do que eu, mas eles me acompanhavam de vez em quando. Agente tinha uma tática; Cada um ia chegando, e Deus, eu sempre era o primeiro, íamos nos sentando na escada. Uma cara mais sem vontade que a outra. Como tudo quase sempre começava por mim eu ficava olhando as pessoas passando, reparando nas fisionomias mais engraçadas, cansadas e sem vontade que podem existir. Não existe nada melhor do que a escola para encontrar todos os tipos de pessoas. Dava o sinal e agente ficava lá, com nossas caras amassadas e assuntos estranhos, até que alguém da disciplina vinha nos buscar. Acho que no terceiro ano virou rotina, alguém da disciplina já era encarregado. Imagino bem; antes de abrirem os portões uma reuniãozinha entre as disciplinadoras, todas preparando suas caras rabugentas, afinal elas não podiam viver naquele humor, e dai “AH! E quem vai tirar aqueles vagabundos da 310 daquela maldita escada?” alguém levantava a mão e todos se retiravam.

Chegada na aula era igual. Sempre. Preguiça. Quando, por algum forte motivo (provas, trabalhas e temas não feitos) eu não sentava na escada, entrava na sala com a mesma cara dos outros mesmos dias. Feia. Não era uma cara, era o que restava de mim as sete da manhã. Comprimentos? Eu tinha preguiça, falar também era um desafio. Olhares pra cá, olhares pra lá. Acho que eu checava se eram as mesmas pessoas, se ninguém tinha sido abduzido ou tivesse saído correndo do colégio e gritando.

Havia aqueles que nunca faltavam, aqueles que faltavam de vez em quando, aqueles que faltavam direto e aqueles que não vinham. Incrivelmente todos eram iguais. O cara que falta sempre e a guria que vem sempre? Iguais. Chegavam e faziam as mesmas coisas, falavam com as mesmas pessoas e davam os mesmos sorrisos.

A partir do segundo ano comecei a sentar com o Warken. Acho que foi a pessoa mais parecida comigo que eu achei, entre umas três mil pessoas daquele lugar. Ele era uma variação minha. As vezes eu tinha mais humor, outro dia ele. A preguiça sempre competia, mas confesso; acho que ele ganhava de mim na maioria das vezes, MAS eu não deixava barato. A idéia de escrever veio de uma conversa com ele. Nossas conversas iam de política, geografia e história (nossas preferidas) até ET’s, outros mundos e sempre, todo dia, tinha que ter uma viagem, as vezes eram boas como “Eu sou educado com todo mundo, ficaria feliz se os outros fossem comigo também, imagina se acontece-se” ou as melhores “imagina, entra a irmã Regina agora e diz “quem dizer o contrário de “titia” pode ir embora” “tinoite irmã!” "Liberados!". Essas eram as melhores. Bom, na verdade quando tinha uma dessas conversas é porque a manhã seria uma das melhores.

3 comentários:

Gabriel Warken disse...

"A preguiça sempre competia, mas confesso; acho que ele ganhava de mim na maioria das vezes, MAS eu não deixava barato."

Tchê, tu nao deixavas barato mesmo, eu tinha que dar o meu melhor!

Danipros disse...

Cara, bom texto, de verdade.
Verdade verdadeira. Escola é sempre igual

Luciana disse...

Goostei do post :) A preguiça de falar é muito real, mas não só na escola haha

E ninguém mais posta?